Aventuras de João Sem Medo
Panfleto Mágico em forma de romance
O homem sem cabeça
"Era uma vez um rapaz chamado João que vivia em Chora-Que-Logo-Bebes, exígua aldeia aninhada perto do Muro construído em redor da Floresta Branca, onde os homens, perdidos dos enigmas da infância, haviam estalado uma espécie de Parque de Reserva de Entes Fantásticos.
Apesar de ficar a pouca distância da povoação, ninguém se atrevia a devassar a floresta. Não só por se encontrar protegida pela altura do Muro, mas principalmente porque os choraquelogobebenses – infelizes chorincas que se lastimavam de manhã até à noite – mal tinham força para arrastar o bolor negro das sombras, quanto mais para se aventurarem a combater bichas de sete bocas, gigantes de cinco braços ou dragões de duas goelas. Preferiam choramingar, os maricas...
...O único que, talvez por capricho de contradizer o ambiente e instinto de refilar, resistia a esta choradeira pegada, era o nosso João que, em virtude duma contínua ostentação de bravata alegre e teimosia na luta, todos conheciam por João Sem Medo.
Ora um dia, farto de tanta choraminguice e de tanta miséria que gelava as casas e cobria os homens de verdete, disse à mãe que, conforme a tradição local, lacrimejava no seu canto de viúva:
- Mãe: não aturo mais isto. Vou saltar o Muro.
A pobre desatou logo aos berros de súplica que abalaram o Céu e a Terra:
- Ah! Não vás, não vás, meu filho! Pois não sabes que essa Floresta Maldita está povoada de Canibais Mágicos que se alimentam de sangue de homens? Sim, meu filho, de sangue humano bebido por caveiras. Não vás! Não vás!
E durante horas não cessou de barregar, histérica:
- Ai que não torno a ver o meu rico filhinho!
Mas as implorações da mãe não impediram que, na manhã seguinte, João Sem Medo se esgueirasse de Chora-Que-Logo-Bebes e se dirigisse à socapa para o tal Muro que cercava a floresta e onde alguém escrevera este aviso: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR...
José Gomes Ferreira
Delicioso para ler em qualquer altura
sozinhos ou acompanhados
sentados ou deitados
de barriga para baixo ou para cima
baixinho ou alto
aos pais e aos mais pequenos
porque esta é uma história
que a rir e a brincar
pisca o olho a todos nós
que ainda procuramos
o mundo que queremos afinal...
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