quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Delicioso...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Don`t Give Up

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A CARTA QUE NÃO FOI MANDADA

Paris, outono de 73
Estou no nosso bar mais uma vez
E escrevo pra dizer
Que é a mesma taça e a mesma luz
Brilhando no champanhe em vários tons azuis
No espelho em frente eu sou mais um freguês
Um homem que já foi feliz, talvez
E vejo que em seu rosto correm lágrimas de dor
Saudades, certamente, de algum grande amor

Mas ao vê-lo assim tão triste e só
Sou eu que estou chorando
Lágrimas iguais
E, a vida é assim, o tempo passa
E fica relembrando
Canções do amor demais
Sim, será mais um, mais um qualquer
Que vem de vez em quando
E olha para trás
É, existe sempre uma mulher
Pra se ficar pensando
Nem sei... nem lembro mais

VINICIUS

A ÁRVORE GENEROSA

Era uma vez uma árvore...
que amava um menino.

E todos os dias o menino vinha,
juntava as suas folhas
e com elas fazia coroas,
imaginando ser o rei da floresta.

Subia ao seu tronco,
balançava-se nos seus ramos,
comia as suas maçãs,
brincavam às escondidas
e quando ficava cansado,
dormia à sua sombra.

O menino amava aquela árvore...
como ninguém.

E a árvore era feliz.

Mas o tempo passou.
O menino cresceu.
E a árvore ficava muitas vezes sozinha.

Um dia o menino veio e a árvore disse-lhe:
- Anda menino. Anda subir o meu tronco,
balançar-te nos meus ramos, comer maçãs,
brincar à minha sombra
e ser feliz.

-Já sou muito crescido para brincar - disse o menino.
Quero comprar coisas e divertir-me.
Quero dinheiro.
Podes dar-me algum dinheiro?

- Desculpa - disse a árvore.
Eu não tenho dinheiro. Só tenho folhas e maçãs.
Leva as minhas maçãs, menino.
Vende-as na cidade.
Então terás dinheiro
e serás feliz.

E assim,
o menino subiu o tronco,
colheu as maçãs e levou-as.

E a árvore ficou feliz.

Mas o menino ficou longe da árvore
durante muito tempo...
e a árvore ficou triste outra vez.
Até que um dia o menino regressou
e a árvore, estremecendo de alegria,
disse:
- Anda, menino.
Anda subir o meu tronco,
balançar-te nos meus ramos
e ser feliz.

-Estou muito ocupado para subir a
árvores - respondeu o menino.
Eu quero uma casa para viver.
Quero uma mulher e filhos.
Para isso preciso de uma casa.
Podes dar-me uma casa?

- Eu não tenho casa - disse a árvore.
A floresta é o meu abrigo.
Mas corta os meus ramos
e constrói a tua casa.
Então serás feliz.

O menino assim fez.
Cortou os ramos e levou-os
para construir uma casa.

E a árvore ficou feliz.

Mas uma vez mais
o menino separou-se da árvore
e quando voltou,
a árvore sentiu-se tão feliz
que mal conseguia falar.

- Anda menino - sussurrou ela.
Anda brincar.

- estou velho e triste demais
para brincar - explicou o menino.
Quero um barco que me leve
para bem longe daqui.
Podes dar-me um barco?

- Corta o meu tronco
e faz um barco - disse a árvore.
Assim poderás viajar
para longe e ser feliz.

O menino cortou o tronco,
fez um barco e partiu.

E a árvore ficou feliz
mas não muito.

Muito tempo depois,
o menino voltou novamente.

- Desculpa, menino - disse a árvore.
nada mais me resta para te dar.
As maçãs já se foram.

- Os meus dentes são fracos demais
para maçãs - explicou o menino.

- Já não tenho ramos - lamentou a árvore.

-Também já não tenho idade para me balançar em
ramos - respondeu o menino.

- Não tenho tronco para subires - continuou a árvore.

-Estou muito cansado para isso - disse o menino.

- Desculpa - suspirou a árvore.
Gostava de ter algo para te oferecer...
mas nada me resta.
Sou apenas um velho toco.
Desculpa...

-Já não preciso de muita coisa - acrescentou
o menino.
Só um lugar sossegado
onde me possa sentar e descansar.
Sinto-me muito cansado.

-Pois bem - respondeu a árvore,
endireitando-se o mais possível.
Um velho toco á óptimo
para te sentares e descansar.
Anda, menino. Senta-te.
Senta-te e descansa.

E foi o que o menino fez.

E a árvore ficou feliz.

"A árvore generosa" de Shel Silverstein

giríssimo relembrar...

Gosto de estar aqui...

As casas navegam nos lagos verdes
das figueiras, transbordantes de tranquilidade
Ouve-se o escorrer do fim do dia
São boas as tardes quando morrem assim
redondas de silêncio
Nuno Higino





HÁ ANOS PIORES QUE OUTROS

Há anos... piores do que outros.

Está nesse caso o de 1973.

Golpe fascista no Chile -
assassinato de Bento Gonçalves no Campo de Concentração do Tarrafal.


Hoje é a vez de assinalar a passagem do 35º aniversário das mortes de três Pablos, todos figuras maiores da arte e da cultura mundiais, todos homens que puseram a sua arte e o seu génio ao serviço das mais nobres causas humanas, todos desaparecidos nesse «ano assassino de 1973»:

Pablo Picasso, em 8 de Abril.
Pablo Neruda, em 23 de Setembro
Pablo Casals, em 22 de Outubro.

Por isso, aqui fica esta«BREVE CONSIDERAÇÃO À MARGEM DO ANO ASSASSINO DE 1973»que Vinicius escreveu e leu num espectáculo memorável realizado em Dezembro desse ano:

Que ano mais sem critério
esse de setenta e três...
Levou para o cemitério
três Pablos de uma só vez.

Três Pablões, não três pablinhos
no tempo como no espaço
Pablos de muitos caminhos
Neruda, Casal, Picasso.

Três Pablos que se empenharam
contra o fascismo espanhol
Três Pablos que muito amaram
Três Pablos cheios de sol

Um trio de imensos Pablos
em génio e demonstração
feita de engenho, trabalho,
pincel, arco e escrita à mão.

Três publicíssimos Pablos:
Picasso, Casal, Neruda
Três Pablos de muita agenda
Três Pablos de muita ajuda.

Três líderes cuja morte
o mundo inteiro sentiu...
Ó ano triste e sem sorte:
Vá prá puta que o pariu.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

AI QUEM ME DERA

Ai, quem me dera terminasse a espera
Retornasse o canto simples e sem fim
E ouvindo o canto se chorasse tanto
Que do mundo o pranto se estancasse enfim


Ai, quem me dera ver morrrer a fera
Ver nascer o anjo, ver brotar a flor
Ai, quem me dera uma manhã feliz
Ai, quem me dera uma estação de amor


Ah, se as pessoas se tornassem boas
E cantassem loas e tivessem paz
E pelas ruas se abraçassem nuas
E duas a duas fossem casais


Ai, quem me dera ao som de madrigais
Ver todo mundo para sempre afim
E a liberdade nunca ser demais
E não haver mais solidão ruim


Ai, quem me dera ouvir o nunca-mais
Dizer que a vida vai ser sempre assim
E, finda a espera, ouvir na primavera
Alguém chamar por mim


Vinicius

Macus Romero




sábado, 11 de outubro de 2008

Alfonsina Storni

Sábado

Me levanté temprano y anduve descalza

Por los corredores: bajé a los jardines
Y besé las plantas
Absorbí los vahos limpios de la tierra,
Tirada en la grama;
Me bañé en la fuente que verdes achiras
Circundan. Más tarde, mojados de agua
Peiné mis cabellos. Perfumé las manos
Con zumo oloroso de diamelas. Garzas
Quisquillosas, finas,
De mi falda hurtaron doradas migajas.
Luego puse traje de clarín más leve
Que la misma gasa.
De un salto ligero llevé hasta el vestíbulo
Mi sillón de paja.
Fijos en la verja mis ojos quedaron,
Fijos en la verja.
El reloj me dijo: diez de la mañana.
Adentro un sonido de loza y cristales:
Comedor en sombra; manos que aprestaban
Manteles.
Afuera, sol como no he visto
Sobre el mármol blanco de la escalinata.
Fijos en la verja siguieron mis ojos,
Fijos. Te esperaba.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

domingo, 5 de outubro de 2008

LEICIA GOTLIBOWSKI

Un cuento te cuento

Un cuento te cuento
pero un cuento largo:
largo como el cielo
que rodea ancho,
tantas veces bueno,
lo que no hay que ver.

Si te parece, te cuento
la historia de un hombre
que acabó su vida
sin saber porqué
o la de un enano
que cuando bailaba
tocaba las nubes
con sus largos pies.

Si te parece triste
como para llorar,
te cuento que es simple
cambiarle el final.
El hombre que murió
por fin supo porque,
el enano creció
y se achicaron sus pies.

El primero nació
nuevamente en un ser
que se pasa la vida
olvidando el ayer.
El enano crecido
con nuevos zapatos
se la pasa bailando
tan cerca del sol,
que vuelve a hacer triste
el final de esta historia.
Mejor que otro cuente
un cuento mejor.

Esquecer é uma necessidade...

“Esquecer é uma necessidade.

A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa apagar o caso escrito.”

(Machado de Assis)

POLY BERNATENE

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A ALDEIA QUE NÃO TIVE






























Era uma vez uma aldeia que eu não tive.
Havia casas que voavam e andavam sobre rodas e tinham escadas que ninguém sabia onde iam dar, que é sempre o destino com que sonha qualquer escada que se preze.
Os relógios tinham todos parado às dez e dez - não por nenhuma razão especial (um dia hei-de ler uma justificação teórica para o facto, mas por agora não sei nada disso) mas apenas porque toda a gente achava que ficava mais bonito, e mostrava que toda a gente acordava e adormecia, entrava e saía, encontrava-se e desencontrava-se exactamente à mesma hora. Havia estranhos gramofones que, juntamente com aquelas canções roufenhas do tempo da Segunda Guerra Mundial, abrigavam cães e homens com medo – que depois corriam em todas as direcções, com árvores e flores e pássaros a saírem-lhes da cabeça. Às vezes os homens cansavam-se e sentavam-se nos telhados das casas, nas capotas dos automóveis, e deitavam a língua de fora a quem passava, ou ficavam simplesmente de barriga para o ar, a agitar bandeirinhas, ou a deitar ao vento um cão preso por um cordel, como se fosse uma estrela de papel, e se calhar era.
Nunca se sabia para onde corriam os homens da aldeia que eu não tive. Mas isso não era importante. O importante era saber que, para onde quer que fossem, havia sempre um portão que se abria só para eles, e lobos cheios de saudades do Capuchinho Vermelho que um dias caíu no poço que havia no largo da igreja e nunca mais voltou. Desde esse dia os sinos da igreja têm um som ensurdecedor, e todos os objectos se desfazem em sinais de fumo para ver se ela entende a mensagem e regressa. Enquanto isso não acontece, na aldeia que eu não tive bebe-se muito chá em chávenas e bules e cafeteiras e sonha-se com a palavra paraíso.
E foi numa tarde de chá e fumo a saír dos bules e das torradas que eu também sonhei com a palavra paraíso, viajando pela aldeia que eu não tive. Pela aldeia que eu passei a ter graças ao João Vaz de Carvalho. E quem nos dá uma aldeia, tem a eternidade assegurada.


Alice Vieira
2005

LUA...LUAR...LUZ da LUA...LUAR...LUZ...



KELLY RAE