Não é da luz do sol que carecemos. Milenarmente a grande estrela iluminou a terra e, afinal, nós pouco aprendemos a ver. O mundo necessita ser visto sob outra luz: a luz do luar, essa claridade que cai com respeito e delicadeza. Só o luar revela o lado feminino dos seres. Só a lua revela intimidade da nossa morada terrestre. Necessitamos não do nascer do Sol. Carecemos do nascer da Terra.
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
domingo, 19 de dezembro de 2010
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
domingo, 5 de dezembro de 2010
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
O PESO DOS LIVROS
Pensava que os livros não têm peso. Quero dizer, flutuam no entendimento.
Na memória. Ou melhor: equilibram-se porque não são gente.
Não têm noites, não têm insónias. Não têm sono lá dentro.
Pensava que os livros são menos complexos do que nós. Mesmo quando
não temos linha, quando não temos palavra. Mesmo quando
não conseguimos respirar. Quando pensei nisso,
tive uma vaga noção de título.
E um hálito branco a querer ser página.
Filipa Leal, in O problema de ser norte/ Deriva Editores
Na memória. Ou melhor: equilibram-se porque não são gente.
Não têm noites, não têm insónias. Não têm sono lá dentro.
Pensava que os livros são menos complexos do que nós. Mesmo quando
não temos linha, quando não temos palavra. Mesmo quando
não conseguimos respirar. Quando pensei nisso,
tive uma vaga noção de título.
E um hálito branco a querer ser página.
Filipa Leal, in O problema de ser norte/ Deriva Editores
Dez réis de Esperança
Se não fosse esta certeza
que não sei de onde me vem,
não comia, não dormia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos à boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.
António Gedeão
que não sei de onde me vem,
não comia, não dormia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos à boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.
António Gedeão
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Iron and Wine - Flightless Bird, American Mouth (Live)
Acabadinha de chegar da FNAC carregadinha, exausta mas feliz....
este vai ser um Natal cheio de livros e cds...
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
terça-feira, 23 de novembro de 2010
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Carta de um contratado
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que dissesse
deste anseio
de te ver
deste receio
de te perder
deste mais bem querer que sinto
deste mal indefinido que me persegue
desta saudade a que vivo todo entregue...
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta de confidências íntimas,
uma carta de lembranças de ti,
de ti
dos teus lábios vermelhos como tacula
dos teus cabelos negros como dilôa
dos teus olhos doces como maboque
do teu andar de onça
e dos teus carinhos
que maiores não encontrei por aí...
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que recordasse nossos tempos a capopa
nossas noites perdidas no capim
que recordasse a sombra que nos caía dos jambos
o luar que se coava das palmeiras sem fim
que recordasse a loucura
da nossa paixão
e a amargura da nossa separação...
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que a não lesses sem suspirar
que a escondesses de papai Bombo
que a sonegasses a mamãe Kieza
que a relesses sem a frieza
do esquecimento
uma carta que em todo o Kilombo
outra a ela não tivesse merecimento...
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que ta levasse o vento que passa
uma carta que os cajús e cafeeiros
que as hienas e palancas
que os jacarés e bagres
pudessem entender
para que o vento a perdesse no caminho
os bichos e plantas
compadecidos de nosso pungente sofrer
de canto em canto
de lamento em lamento
de farfalhar em farfalhar
te levassem puras e quentes
as palavras ardentes
as palavras magoadas da minha carta
que eu queria escrever-te amor....
Eu queria escrever-te uma carta...
Mas ah meu amor, eu não sei compreender
por que é, por que é, por que é, meu bem
que tu não sabes ler
e eu - Oh! Desespero! - não sei escrever também
Poemas, 1961, Luanda
António Jacinto
amor,
uma carta que dissesse
deste anseio
de te ver
deste receio
de te perder
deste mais bem querer que sinto
deste mal indefinido que me persegue
desta saudade a que vivo todo entregue...
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta de confidências íntimas,
uma carta de lembranças de ti,
de ti
dos teus lábios vermelhos como tacula
dos teus cabelos negros como dilôa
dos teus olhos doces como maboque
do teu andar de onça
e dos teus carinhos
que maiores não encontrei por aí...
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que recordasse nossos tempos a capopa
nossas noites perdidas no capim
que recordasse a sombra que nos caía dos jambos
o luar que se coava das palmeiras sem fim
que recordasse a loucura
da nossa paixão
e a amargura da nossa separação...
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que a não lesses sem suspirar
que a escondesses de papai Bombo
que a sonegasses a mamãe Kieza
que a relesses sem a frieza
do esquecimento
uma carta que em todo o Kilombo
outra a ela não tivesse merecimento...
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que ta levasse o vento que passa
uma carta que os cajús e cafeeiros
que as hienas e palancas
que os jacarés e bagres
pudessem entender
para que o vento a perdesse no caminho
os bichos e plantas
compadecidos de nosso pungente sofrer
de canto em canto
de lamento em lamento
de farfalhar em farfalhar
te levassem puras e quentes
as palavras ardentes
as palavras magoadas da minha carta
que eu queria escrever-te amor....
Eu queria escrever-te uma carta...
Mas ah meu amor, eu não sei compreender
por que é, por que é, por que é, meu bem
que tu não sabes ler
e eu - Oh! Desespero! - não sei escrever também
Poemas, 1961, Luanda
António Jacinto
domingo, 21 de novembro de 2010
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
terça-feira, 16 de novembro de 2010
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Burundi - Khadja Nin - Wale Watu
aca ile maneno ya bule Usiji liliye hali yako We haujuwe umasikini Hangaliya wale watu Hawa liye hawa ombe Wale watu wana imba Ata kama wana lala njala Arrête tes vaines paroles Ne regarde pas juste ton nombril Toi, tu ne connais pas la pauvreté Regarde ces gens là ! Ils ne pleurent pas ni ne mendient ! Ces gens là, ils chantent Même s'ils couchent le ventre vide !
Mbali ya ma inchi yote Mbali ya paris au roma Kuna watu masikini Hawa liye hawa ombe Wana itika tu vile Wale watu wana imba Ata kama wana lala njala Njo vile kila siku Loin de plusieurs pays Loin de Paris ou Rome, Il y a des gens pauvres Ils ne pleurent pas, ils ne mendient pas non plus ! Ils acceptent cette situation juste comme ça Ces gens là, ils chantent, Même s'ils se couchent affamés ! C'est toujours comme ça!
sábado, 13 de novembro de 2010
HOJE CHOVIA A CHUVA QUE NÃO CHOVE
Quando a África incha seus músculos de sangue & secura
Não há Sahel que não queime
No coração da noite
A sua salina de solidão
Não há boca Que não chova a sua gota de corpo & alma
Nem gota
De água doce Que não seja
Um espaço! para amar & habitar
Por vezes! o relâmpago
Escreve coisas vivas na boca do arquipélago
E as ilhas soerguem-se
pelo arquipélago das patas
E vão
De cratera em cratera
Erguer
na boca das sementes
A força contida dos vulcões
Homem! deus é grande entre duas ilhas
Se baleias emergem da gota do teu rosto
Na Ilha! a cicatriz de deus é grande
Mas a ferida do homem é maior
Canção! no arbusto da viola
Que chove
A lírica de deus é grande
Mas a música do homem é maior
Mulher! quando o céu da tua boca
Arrasta o corpo da terra
Até à goela da água longínqua
A febre conta no arco-íris
Da carne que sangra
A montanha roída dos dentes...
E da cicatriz da mão
brotam raízes
Que vicejam a memória dos séculos
Corsino Fortes
Não há Sahel que não queime
No coração da noite
A sua salina de solidão
Não há boca Que não chova a sua gota de corpo & alma
Nem gota
De água doce Que não seja
Um espaço! para amar & habitar
Por vezes! o relâmpago
Escreve coisas vivas na boca do arquipélago
E as ilhas soerguem-se
pelo arquipélago das patas
E vão
De cratera em cratera
Erguer
na boca das sementes
A força contida dos vulcões
Homem! deus é grande entre duas ilhas
Se baleias emergem da gota do teu rosto
Na Ilha! a cicatriz de deus é grande
Mas a ferida do homem é maior
Canção! no arbusto da viola
Que chove
A lírica de deus é grande
Mas a música do homem é maior
Mulher! quando o céu da tua boca
Arrasta o corpo da terra
Até à goela da água longínqua
A febre conta no arco-íris
Da carne que sangra
A montanha roída dos dentes...
E da cicatriz da mão
brotam raízes
Que vicejam a memória dos séculos
Corsino Fortes
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
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