INCÊNDIO
se conseguires entrar em casa e
alguém estiver em fogo na tua cama
e a sombra duma cidade surgir na cera do soalho
e do tecto cair uma chuva brilhante
contínua e miudinha - não te assustes
são os teus antepassados que por um momento
se levantaram da inércia dos séculos e vêm
visitar-te
diz-lhes que vives junto ao mar onde
zarpam navios carregados com medos
do fim do mundo - diz-lhes que se consumiu
a morada de uma vida inteira e pede-lhes
para murmurarem uma última canção para os olhos
e adormece sem lágrimas - com eles no chão
Al Berto, in «sem título e bastante breve e outros poemas»
2 comentários:
obrigado querida amiga, por me dares a conhecer um poema tão belo
Tão tão feliz por te saber por aqui meu querido amigo.
O Alberto deixou-nos tão cedo, com saudades, mas tão mais ricos...
O teu último projecto deixou-me super curiosa(Alexandre O`neill)
gostava de saber mais...
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