Eduardo Sá,
Psicólogo, psicanalista e professor
Texto de
Cláudia Gameiro
na integra porque sim... porque gosto muito de Eduardo Sá!
Tem o sorriso de uma criança. Comanda as suas acções com a emoção, sem nunca esquecer a razão. É polémico e mediático, mas diz usar a mediatização com os pés bem assentes no chão. A voz é baixa, calma e ponderada. Sente-se privilegiado por ter vivido o 25 de Abril e testemunhado a paixão “de um povo a chorar por uma revolução”. Envolve-se nos projectos com convicção e intensidade, ainda que tenha dificuldade em coordenar todas as actividades que desempenha. Não obstante, Eduardo Sá nunca perdeu uma festa de aniversário, uma actividade dos filhos. São quatro, já crescidos, e referência constante nas suas obras. Diz que foram eles que o “educaram” e que o corrigiram nas “tolices” que lhe ensinaram na Universidade. Considera, aliás, que nunca deixou “de ser criança”. Talvez por isso, o seu livro favorito seja o Peter Pan e o filme mais marcante À Procura da Terra do Nunca.
Eduardo Sá nasceu em Leiria, em 1962. Hoje é psicólogo, psicanalista e professor de Psicologia clínica no Instituto Superior de Psicologia Aplicada em Lisboa e na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, onde se formou. Desde muito cedo começou a colaborar em diversas publicações, tendo percorrido as revistas Xis, Adolescentes, Pais, a Notícias Magazine do Diário de Notícias ou o jornal Público. Logo percebeu “que era mais fácil escrever uma tese do que um artigo que toda a gente pudesse ler”. Aprendeu assim a ser sintético. Aos artigos seguiram-se os livros, com títulos tão característicos como Más Maneiras de Sermos Bons Pais, Crianças para Sempre ou A vida não se aprende nos livros.
As obras salientam-se pela irreverência e as afirmações provocatórias sobre o tratamento das crianças. Numa afirma ser “recomendável que os alunos ousem ser insolentes para com os seus professores”; noutra, que “atrás de uma criança difícil está sempre um adulto em dificuldades”.
Os leigos chamam-no de liberal, os colegas acusam-no de ser sensacionalista e demasiado simplista. Da televisão, meio que também conquistou com o programa Livro de Reclamações, surgem retratos anedóticos sobre o seu modo de estar e de falar. A tudo isto Eduardo Sá responde ter aprendido “que a inveja não é um sentimento mau”.
Estudantes gostam
Os alunos adoram-no, citando as suas frases mais características. “Tão natural como a sua sede” costuma ser uma delas. Valorizam o tratamento de igual para igual, a coragem de aparecer, de ter tempo para tudo, de discutir se a nota final é ou não justa. Os anfiteatros enchem-se da frente para trás e cada um procura ver quem consegue manter o silêncio por mais tempo. Muitos já fizeram a cadeira, mas continuam a assistir às aulas.
Olham-no com carinho e reverência. Admitem, porém, que o professor não sabe dizer “não”, acabando por ter pouca disponibilidade para partilhar um conhecimento que se torna “insubstituível”. Nos momentos em que está, entrega-se a 100 por cento. Mas quer tanto abraçar o mundo que não consegue. Eduardo Sá sorri e cora ao lembrar os alunos.
O escritório, na clínica “Bebés e Crescidos”, em Coimbra, está recheado de livros e revistas. Na secretária, um pote de chocolates enche os olhos de qualquer petiz que por ali passe. Mesmo o cabelo já grisalho, não lhe retira o rosto sorridente de um garoto de dez anos. Afirma adorar dar aulas, mas detesta um ensino superior baseado em relações de poder. Foi vice-reitor da Universidade Internacional da Figueira da Foz. Acredita ser boa pessoa e sente-se mal quando acha que falhou nesse intuito. A filha mais velha, Sofia, perguntou-lhe um dia porque razão a lua estava no céu. Eduardo Sá não soube responder. O facto não traumatizou a jovem. O pai, mesmo sendo hoje seu professor, continua o mesmo de sempre, mais “galinha” do que a mãe. Um óptimo narrador de histórias, que esteve sempre presente, que lhes deu liberdade de pensamento e se tornou um exemplo de luta por aquilo em que se acredita.
Quando perguntam ao psicanalista pelo mundo, diz que o vê “a cores” e que “tem vindo a tornar-se um lugar cada vez melhor”. O futuro “é sempre um local mais bonito” para quem não gosta de olhar o passado, acreditando no que as crianças trazem de novo. Porque elas, afinal, “não são o melhor do mundo”, mas o melhor “de nós mesmos”. Por isso continua a aparecer, comentando casos tão polémicos como o da pequena Esmeralda ou o da austríaca Natasha Kampush. Eduardo Sá destaca-se também pela investigação no âmbito da psicologia do feto e do bebé.
“O bem-estar da criança é essencial”, comenta Catarina Neves, ex-aluna do professor. Quando este ensinava a matéria, parecia estar a contar uma história, chegando a finalista de Psicologia de Coimbra a sair da Latada directamente para as suas aulas. Muitas alunas eram apaixonadas por ele. Entravam, afinal, na Terra do Nunca, procurando por entre os alicerces da Faculdade aquela irreverência de quem vive a vida pela primeira vez e quer ver satisfeitos os seus porquês e os seus caprichos. Onde basta ter um pensamento bom, um mundo feito de arco-íris, para conseguir voar. E seria tão bom ser criança para sempre…
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