quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Estória sem tempo

Da infância de cada um, ficam sempre pequenas "grandes" coisas gravadas na memória. O lugar onde crescemos, as cores, os cheiros, as pessoas, os sabores, os sons...Memórias que nos abraçam para o resto da vida e que quase sempre nos deixam nostalgia e um sorriso no rosto quando nos lembramos delas. Ao ler "Os da minha rua" de Ondjaki voltei a África, e à minha rua...foi tempo de voltar a ser menina, "maria-rapaz", carregada de sonhos, a subir a rua de bicicleta e descê-la de carrinho de rolamentos, calçar os patins e rodopiar horas a fio, entre quedas, risadas, voltas, derrapagens e saltos mirabolantes que nos transportavam sempre para novas brincadeiras...e era então que surgia o "Mata", o "Trouxa-lavada" o "Tau" , e o "Ping-pong" onde era rainha... dona e senhora de grandes feitos que sabia eu deixavam no pai um olhar maroto cheio de orgulho e na mãe uma pena imensa por me ver gostar tanto de rua. Acho até que a determinada altura minha mãe vivia amargurada temendo que sua única menina em nada seguisse seus exemplos femininos e sim a galfarronice dos três irmãos, verdadeiros inventores das mais loucas e bizarras brincadeiras... como as gincanas ao km 2 da estrada que cortava o deserto Namibe/Porto-Alexandre...e aí sim, era a valer...saíamos manhã cedinho, aos três por bicicleta, arcos e ganchetas (bem artilhados no dia anterior), e muito agarradinhos, não fossem chegar ao deserto com alguma avaria. Depois, depois era ver reunidos todos "Os da minha rua", num louco e alegre comboio a caminho da pista já desenhada nas areias do deserto, cheia de lombas e lombinhas, ser palco das mais divertidas gincanas, com arcos pelo ar, quedas pelo meio, gancheta para um lado, arco para o outro, joelhos raspados e muita risada pelo meio... ah e ainda, com direito a prémios e tudo... Trago esse tempo sem horas, que me deu a infância mais feliz do mundo, sempre comigo, e hoje mais do que nunca, voltei, e senti os cheiros as cores os sabores e os sons d`Os da minha Rua, e do meu Chão.Obrigada Ondjaki

com carinho
aos meninos do Namibe
e a todos os amigos da minha rua...

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