terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O BRINCADOR

Quando for grande, não quero ser médico, engenheiro ou professor.
Não quero trabalhar de manhã à noite, seja no que for.
Quero brincar de manhã à noite, seja com o que for.
Quando for grande, quero ser um brincador.
Ficam, portanto, a saber:
não vou para a escola aprender a ser um médico,
um engenheiro ou um professor.
Tenho mais em que pensar e muito mais que fazer.
Tenho tanto que brincar, como brinca um brincador,
muito mais o que sonhar, como sonha um sonhador,
e também que imaginar, como imagina um imaginador...
A minha mãe diz que não pode ser,
que não é profissão de gente crescida.
E depois acrescenta, a suspirar:
"é assim a vida".
Custa tanto a acreditar.
Pessoas que são capazes,
que um dia também foram raparigas e rapazes,
mas já não podem brincar.
A vida é assim? Não para mim.
Quando for grande, quero ser um brincador.
Brincar e crescer, crescer e brincar,
até a morte vir bater à minha porta.
Depois também,
sardanisca verde que continua a rabiar mesmo depois de morta.
Na minha sepultura,
vão escrever:
Aqui jaz um brincador.

Álvaro Magalhães

Sem comentários: