domingo, 20 de janeiro de 2008

Nunca mais

A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva~
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos

Tomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser.

Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência.
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

(Sophia de Mello Breyner)

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