quarta-feira, 21 de novembro de 2007

MIA COUTO

Era uma vez uma menina que
pediu ao pai que fosse apanhar a
lua para ela. O pai meteu-se num
barco e remou para longe. Quando
chegou à dobra do horizonte
pôs-se em bicos de sonhos para
alcançar as alturas. Segurou o
astro com as duas mãos, com mil
cuidados. O planeta era leve como
uma baloa.
Quando ele puxou para arrancar
aquele fruto do céu se escutou um
rebentamento. A lua se cintilhaçou
em mil estrelinhações. O mar se
encrispou, o barco se afundou, engolido
num abismo. A praia se cobriu de prata,
flocos de luar cobriram o areal. A menina
se pôs a andar ao contrário de todas
as direcções, para lá e para além,
recolhendo os pedaços lunares.Olhou
o horizonte e chamou:
-Pai!
Então, se abriu muma fenda funda,
a ferida de nascença da própria terra.
Dos lábios dessa cicatriz se derramava sangue.
A água sangrava? O sangue se aguava?
E foi assim. Essa foi a vez.

Sem comentários: