Porque impede o tempo, atrasa a ruga e tenho saudades de me estender na areia, sentir a terra enamorar-se de mim e no meu silêncio, escutar-lhe o mar sob a pele do chão e tirar vantagens desses silêncios submarinos. Sou dele, do mar e tenho saudades...
Mar que quero!
(…) “Devia era, logo de manhã, passar um sonho pelo rosto. É isso que impede o tempo e atrasa a ruga. Sabe o que faz? Estende-se aí na areia, oblonga-se deitadinha, estica a alma na diagonal. Depois, fica assim, caladita, rentinha ao chão, até sentir a terra se enamorar de si. Digo-lhe, Dona: quando ficamos calados, igual uma pedra, acabamos por escutar os sotaques da terra. A senhora num certo momento, há-de ouvir um chão marinho, faz conta é um mar sob a pele do chão. Aproveita esse embalo, Dona Luarmina. Eu tiro boas vantagens desses silêncios submarinhos. São eles que me fazem adormecer ainda hoje. Sou criança dele, do mar. (…)
Mia Couto
Mar me Quer
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