sábado, 13 de novembro de 2010

HOJE CHOVIA A CHUVA QUE NÃO CHOVE

Quando a África incha seus músculos de sangue & secura

Não há Sahel que não queime

No coração da noite

A sua salina de solidão



Não há boca Que não chova a sua gota de corpo & alma

Nem gota

De água doce Que não seja

Um espaço! para amar & habitar



Por vezes! o relâmpago

Escreve coisas vivas na boca do arquipélago



E as ilhas soerguem-se

pelo arquipélago das patas

E vão



De cratera em cratera

Erguer

na boca das sementes

A força contida dos vulcões



Homem! deus é grande entre duas ilhas

Se baleias emergem da gota do teu rosto



Na Ilha! a cicatriz de deus é grande

Mas a ferida do homem é maior


Canção! no arbusto da viola


Que chove

A lírica de deus é grande

Mas a música do homem é maior



Mulher! quando o céu da tua boca

Arrasta o corpo da terra

Até à goela da água longínqua

A febre conta no arco-íris

Da carne que sangra

A montanha roída dos dentes...



E da cicatriz da mão

brotam raízes

Que vicejam a memória dos séculos

Corsino Fortes

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