quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Bernard Jeunet



Procura-me um poeta mas não o encontres.
Aproxima-te da sua poesia.
Primeiro, segue-a para todos os lados,
ainda que ela te pareça ir a lado nenhum.
Depois, leva-a para onde quiseres.
Passarás por lugares que conheces muito bem,
mesmo que penses não saber imaginá-los.
Sempre ouviste dizer que os poetas se procuram
no curso de um rio como este
ou na silenciosa direcção do vento
que sentes agora. Pode ser que sim
mas não te iludas: procura-os
onde não os possas encontrar.



Encontra-me um poeta mas não o procures.

Concentra-te como se fizesses tudo
para não fazer nada.
Ou então conta segundos em voz interior,
a mais útil das coisas inevitáveis.
Sempre ouviste dizer que os poetas
se encontram no rasto de outro tempo
ou na frescura da manhã que nunca é esta.
Mesmo que assim seja, não te desiludas:
encontrá-los-ás se não os procurares.



Traz-me um poeta mas não o apanhes.
Quanto mais difíceis, os poetas,
mais fácil é agarrá-los, fechá-los.
Nunca ouviste falar daquelas geringonças
que desperdiçam a sua poesia
para aprisionar a dos outros?
Desilude-te: traz-me um poeta tal como ele é.
Trá-lo como se passeasses de mãos nos bolsos,
como se parasses para escrever
as palavras que ele te dita.
Depressa, antes que deixemos de ouvir.
Devagar, antes que se acabe tudo sem ter começado.





in a Arte na Página, Bernard Jeunet, Apanha-me também um poeta, Ilustrarte, C.M. Barreiro, 2006

Bernard Jeunet não pinta nem desenha as suas ilustrações. As suas personagens são esculpidas em papel, a pose ensaiada sobre cenários, a composição ajustada com rigor, os elementos decorativos dispostos meticulosamente. Todo o mobiliário, todos os objectos, da minúscula caixa de lápis ao minúsculo caderno, a luz e as sombras, os reflexos da luz na água. Tudo é papel!

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