quarta-feira, 21 de julho de 2010

Monangamba

Naquela roça grande não tem chuva

é o suor do meu rosto que rega as plantações:



Naquela roça grande tem café maduro

e aquele vermelho-cereja

são gotas do meu sangue feitas seiva.



O café vai ser torrado

pisado, torturado,

vai ficar negro, negro da cor do contratado.



Negro da cor do contratado!



Perguntem às aves que cantam,

aos regatos de alegre serpentear

e ao vento forte do sertão:





Quem se levanta cedo? quem vai à tonga?

Quem traz pela estrada longa

a tipóia ou o cacho de dendém?

Quem capina e em paga recebe desdém

fuba podre, peixe podre,

panos ruins, cinqüenta angolares

"porrada se refilares"?



Quem?



Quem faz o milho crescer

e os laranjais florescer

- Quem?



Quem dá dinheiro para o patrão comprar

maquinas, carros, senhoras

e cabeças de pretos para os motores?



Quem faz o branco prosperar,

ter barriga grande - ter dinheiro?

- Quem?



E as aves que cantam,

os regatos de alegre serpentear

e o vento forte do sertão

responderão:

- "Monangambééé..."



Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras

Deixem-me beber maruvo, maruvo

e esquecer diluído nas minhas bebedeiras



- "Monangambééé..."



Para ouvir a versão de Rui Mingas: http://duouronegro.com.sapo.pt/musicafricana.html

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