sábado, 22 de janeiro de 2011

Regresso

Quando eu voltar,

que se alongue sobre o mar,

o meu canto ao Creador!

Porque me deu, vida e amor,

para voltar...




Voltar...

Ver de novo baloiçar

a fronde magestosa das palmeiras

que as derradeiras horas do dia,

circundam de magia...

Regressar...

Poder de novo respirar,

(oh!...minha terra!...)

aquele odor escaldante

que o humus vivificante

do teu solo encerra!

Embriagar

uma vez mais o olhar,

numa alegria selvagem,

com o tom da tua paisagem,

que o sol,

a dardejar calor,

transforma num inferno de cor...




Não mais o pregão das varinas,

nem o ar monotono, igual,

do casario plano...

Hei-de ver outra vez as casuarinas

a debruar o oceano...

Não mais o agitar fremente

de uma cidade em convulsão...

não mais esta visão,

nem o crepitar mordente

destes ruidos...

os meus sentidos

anseiam pela paz das noites tropicais

em que o ar parece mudo,

e o silêncio envolve tudo

Sede...Tenho sede dos crepusculos africanos,

todos os dias iguais, e sempre belos,

de tons quasi irreais...

Saudade...Tenho saudade

do horizonte sem barreiras...,

das calemas traiçoeiras,

das cheias alucinadas...

Saudade das batucadas

que eu nunca via

mas pressentia

em cada hora,

soando pelos longes, noites fora!...




Sim! Eu hei-de voltar,

tenho de voltar,

não há nada que mo impeça.

Com que prazer

hei-de esquecer

toda esta luta insana...

que em frente está a terra angolana,

a prometer o mundo

a quem regressa...




Ah! quando eu voltar...

Hão-de as acacias rubras,

a sangrar

numa verbena sem fim,

florir só para mim!...

E o sol esplendoroso e quente,

o sol ardente,

há-de gritar na apoteose do poente,

o meu prazer sem lei...

A minha alegria enorme de poder

enfim dizer:

Voltei!..




Alda Lara

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