Era uma vez um pássaro, que sendo ainda pequeno, dependendo sempre dos seus pais, vivia com admiração permanente o voo dos outros pássaros.
Ah, a liberdade de poder fazer aquilo que se quer! Pensava o nosso pássaro.
- Como eu gostava de sentir o vento, na minha cara, como eu gostava de sentir o mar azul que eu sempre vejo aqui da minha casa! Como eu gostava de ir visitar os meus primos que estão nas suas casas como eu!
Mas o nosso pássaro não sabia como fazê-lo, nem os seus pais mostravam vontade de o ensinar. É claro que ainda não era o tempo. Afinal nascera fazia um pouco mais de um mês! Ainda nem tinha penas; tinha uma penugem que cedo, cedo se tranformaria numa plumagem abundante e bela.
Os dias passavam uns sobre os outros e o nosso amigo só comia, comidinha que os seus pais traziam continuamente.
Um dia, já o nosso amigo estava farto em penas, gordo e até já exercitava as suas asas, percebeu que nem o pai, nem a mãe apareceram, de tal sorte que já dava mostras da impaciência da fome. Percebeu a falta que os pais lhe faziam, por necessidade e também pelo apego que tal relação de sangue sempre traz consigo. Começou a sentir sentimentos novos: fome, medo, saudade, tristeza, saudade, pânico,... É muito para um ser nascido faz tão pouco tempo!
- O que é que eu faço? Alguèm tem de me ensinar! Eu não sei lidar com tudo isto!
O nosso pássaro que mal sabia falar, começou aos guinchos a abanar insistentemente as asas que de repente uma forte rabanada de vento, fê-lo saltar do lugar onde estava e mal percebendo viu-se no ar...
Com o seu coraçãozinho aos saltos, completamente em pânico, foi-se deixando cair pela falésia que dava para o mar logo em baixo. Que fazer? Que fazer?
Como que por encanto, sentiu o peito quente, abanou as suas frágeis asas, como os seus pais faziam e ganhou altura... Deixou de dar com as asas e manteve-se no ar, quase que flutuando. Que sensação!! Que sensação!! Durante minutos que lhe pareceram horas assim se manteve, maravilhado com a nova prespectiva que o movimento lhe causava. O brilho do mar, a sua casa, tão pequenina?!..., os montes, as arvores, os outros pássaros, o barquinho que via lá em baixo!!.
Então começou a ficar fraco – afinal não comeu o dia todo – todo o seu corpo começou a ficar pesado, dorido, e foi perdendo altitude, de tal sorte que o mar cada vez lhe parecia mais escuro. Tentou pousar como ele via outros fazerem mas não conseguiu. O impacto foi forte. A água entrou-lhe pelas goelas, pensou que ia morrer. Não conseguia respirar, tudo era escuro à sua volta; sentia frio, estava descontrolado, estava realmente a afogar-se nas profundezas...
Vindos não se sabe donde, um pássaro... e depois outro, formando como que uma concha, fazendo lembrar o tempo de gestação, puxaram-no para cima, com tal velocidade que toda a água que estava no corpo do nosso jovem foi expelida. De repente olhou para os seus salvadores e reparou com ternura, com emoção, com grande alegria, pelo cheiro, pelo simples olhar... e desmaiou.
Durante o sonho, que o viveu como se estivesse no céu, pensou que tinha a seu lado os seus pais queridos. Que saudades, que necessidade de os agarrar, de lhes contar o que tinha sucedido. A fome, o medo, a tristeza, o pânico... tudo desapareceu.
Quando acordou o sonho confundiu-se com o que estava a viver.
Zé Pedro – Março 2009