sexta-feira, 28 de novembro de 2008

'm cria ser poeta
S`na mundo tem mornas e mornas dedicód
Tónt morna bô te mereçê
S`beleza ta trazê inspiração
Esse bô beleza, ê más cum belo horizonte
Infeitód cum bom pôr do sol
Ô um arco-íris mut bem d`stacód.
Amim djam cria ser poeta
Pám fazê um mar di poesia
Pám cumpará que`ss bô beleza d`natureza
Parsem nem mar, nem lua cheia
Nem sol brilhante, nem noit serena
Ta cumpará q`bô formosura e bô corpo.
Pombinha mansa di odjos meigos sem maldade
Bô corpo formoso mas sem vaidade
T`armá quess bô sorriso inocente
Sorriso doce qui ta espertá alguem ambição
Nem q`for d`box tud humilhação
`m crê comquistá bô coração.

Composição: Paulino Vieira

MATIAS PEREZ







quarta-feira, 26 de novembro de 2008

E O NATAL AÍ TÃO PERTO...



José Jorge Letria

Abre-se o livro

Em qualquer página

E cabe nele um dia ou um ano,

Cabe nele a sabedoria,

O romance e a poesia,

Cabe nele o conhecimento

E a luz que nem do pensamento;

Cabe nele tudo o que somos,

Desde que gostemos de ler,

Porque ler é aprender,

Sendo também liberdade e prazer;

Cabe nele o mundo inteiro,

Escrito em computador

Ou com a tinta de um tinteiro,

E de tudo isso falará neste dia

O leitor verdadeiro,

Que do livro, por ser livre,

Será sempre amigo e companheiro.


José Jorge Letria, “O Livro dos Dias”, Âmbar

O BEIJO DA PALAVRINHA ... MIA COUTO



Era uma vez uma menina que nunca vira o mar. Chamava-se Maria Poeirinha. Ela e a sua família eram pobres, viviam numa aldeia tão interior que acreditavam que o rio que ali passava não tinha nem fim nem foz.


Poeirinha só ganhara um irmão, o Zeca Zonzo, que era desprovido de juízo. Cabeça sempre no ar, as ideias lhe voavam como balões em final de festa. Na miséria em que viviam, nada destoava. Até Poeirinha tinha sonhos pequenos, mais de areia do que castelos.

Às vezes sonhava que ela se convertia em rio e seguia com passo lento, como a princesa de um distante livro, arrastando um manto feito de remoinhos, remendos e retalhos.

Mas depressa ela saía do sonho, pois seus pés descalços escaldavam na areia quente. E o rio secava, engolido pelo chão.
Um certo dia, chegou à aldeia o Tio Jaime Litorânio, que achou grave que os seus familiares nunca tivessem conhecido os azuis do mar.
Que a ele o mar lhe havia aberto a porta para o infinito. Podia continuar pobre mas havia, do outro lado do horizonte, uma luz que fazia a espera valer a pena. Deste lado do mundo, faltava essa luz que nasce não do Sol mas das águas profundas.

A fome, a solidão, a palermice do Zeca, tudo isso o Tio atribuía a uma única carência: a falta de maresia. Há coisas que se podem fazer pela metade, mas enfrentar o mar pede a nossa alma toda inteira. Era o que dizia Jaime.

- Quem nunca viu o mar não sabe o que é chorar!
Certa vez, a menina adoeceu gravemente. Num instante, ela ficou vizinha da morte. O Tio não teve dúvida: teriam que a levar à costa.



Para que se curasse, disse ele. Para que ela renascesse tomando conta daquelas praias de areia e onda. E descobrisse outras praias dentro dela.

- Mas o mar cura assim tão de verdade?

- Vocês não entendem? - respondia ele. - Não há tempo a perder.

Metam a menina no barco que a corrente a leva em salvadora viagem.

Contudo, a menina estava tão fraca que a viagem se tornou impossível. Todos se aproximavam da cabeceira e ali ficavam sem saber o que fazer, sem saber o que dizer. A mãe pegou nas mãos da menina e entoou as velhas melodias de embalar.


Em vão. A menina apenas ganhava palidez e o seu respirar era o de um fatigado passarinho. Já se preparavam as finais despedidas quando o irmão Zeca Zonzo trouxe um papel e uma caneta.



- Vou-lhe mostrar o mar, maninha.




Todos pensaram que ele iria desenhar o oceano.

Que iria azular o papel e no meio da cor iria pintar uns peixes. E o Sol em cima, como vela em bolo de aniversário. Mas não. Zonzo apenas rabiscou com letra gorda a palavra
MAR




Apenas isso: a palavra inteira e por extenso.
O menino ficou olhando para a folha parecendo que não entendia o que ele mesmo escrevera. Antes mesmo que ele dissesse alguma coisa, a irmã murmurou, em débil suspiro:
-Não vale a pena, mano Zonzo. Eu já não distingo letra, a luz ficou cansada que já não se consegue levantar.
-Não importa, Poeirinha. Eu lhe conduzo o dedo por cima do meu.





Os pais chamaram o moço à razão, ele que poupasse a irmã daquela tontice e que a deixasse apenas respirar.
Mas Zeca Zonzo fingiu não escutar. Ele tomou na sua mão os dedos magritos de Maria Poeirinha e os guiou por cima dos traços que desenhara.
-Vês esta letra, Poeirinha?
-Estou tocando sombras, só sombras, só.
Zeca Zonzo levantou os dedos da irmã e soprou neles como se corrigisse algum defeito e os ensinasse a decifrar a lisa brancura do papel.
-Experimente outra vez, mana. Com toda a atenção.
Agora, já está sentindo?
-Sim. O meu dedo já está a espreitar.
-E que letra é?







E sorriram os dois, perante o espanto dos presentes.
Como se descobrissem algo que ninguém mais sabia. E não havia motivo para tanto espanto. Pois a letra m é feita de quê?
É feita de vagas, líquidas linhas que sobem e descem.
E Poeirinha passou o dedo a contornar as concavidades da letrinha.
-É isso, manito. Essa letra é feita por ondas.
Eu já as vi no rio.
-E essa outra letrinha, essa que vem a seguir?




Essa a seguir é um a



É uma ave, uma gaivota pousada nela própria, enrodilhada perante a brisa fria.
Em volta todos se haviam calado. Os dois em coro decidiram não tocar mais na letra para não espantar o pássaro que havia nela.
-E a seguinte letrinha?


E os dedos da menina magoaram-se no r duro, rugoso, com suas ásperas arestas.
O Tio Jaime Litorâneo, lágrima espreitando nos olhos, disse:
- Calem-se todos: já se escuta o marulhar!


Então do leito de Maria Poeirinha se ergueu a gaivota branca, como se fosse um lençol agitado pelo vento.
Era Maria Poeira que se erguia? era um simples remoinho de areia branca?
Ou era ela seguindo no rio, debaixo do manto feito de remoinhos, remendos e retalhos?


Ainda hoje, tantos anos passados, Zeca Zonzo, apontando o rosto da sua irmãnzinha na fotografia, clama e reclama.
-Eis minha mana poeirinha que foi beijada pelo mar.


E se afogou numa palavrinha.



Não se escreve para crianças.

Teremos, apenas, idade para viver a história.
Encantados, como os personagens destre livrinho.
Deste modo, estaremos aptos a sermos beijados pelas palavras.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

“A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida.” (Vinícius de Moraes)





Iris
Goo Goo Dolls

And I’d give up forever to touch you
‘Cause I know that you feel me somehow
You are the closest to heaven that I’ll ever be
And I don’t want to go home right now

And all I can taste is this moment
And all I can breathe is your life
‘Cause sooner or later it’s over
I just don’t want to miss you tonight

And I don’t want the world to see me
‘Cause I don’t think that they’d understand
When everything’s made to be broken
I just want you to know who I am

And you can’t fight the tears that ain’t coming
Or the moment of truth in your lies
When everything feels like the movies
Yeah you bleed just to know you’re alive

And I don’t want the world to see me
‘Cause I don’t think that they’d understand
When everything’s made to be broken
I just want you to know who I am

And I don’t want the world to see me
‘Cause I don’t think that they’d understand
When everything’s made to be broken
I just want you to know who I am

And I don’t want the world to see me
‘Cause I don’t think that they’d understand
When everything’s made to be broken
I just want you to know who I am

I just want you to know who I am

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A LUA E O SOL

La Lune est blanche et belle,
Le Soleil est beaux et blond...
La Lune une demoiselle,
Le Soleil un monsieur rond...

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O REENCONTRO...

Todos, de alguna manera nos reencontramos,
Aquí o allá; acá en mi lecho o allí en un bus,
No importa donde, pero nos reencontramos,
En una encrucijada, o en un jardín azul,
En el fondo del camino, o en una casualidad,
No importa el lugar, lo cierto es que ahí estás.
Y así, asimismo, lo inmenso deviene pequeño. Y,
El laberinto se vuelve un mapa de calles con nombres.

Todos, creyentes o no creyentes,
Pero de este lado, Opacos por la sed y el hambre,
Pero con la luz en la mirada,
Todos, en algún instante nos volvemos a cruzar.

Todos los de este lado, luchadores infatigables,
Guerreros de antaño y combatientes modernos,
Justos y equivocados, hombres de una causa,
Militantes del bien y del amor noble,
Caminantes, viajeros donadores de sonrisas,
Trovadores que reparten la esperanza,
Poetas que van por las calles oscuras aclarando el alma,
Todos, no importa dónde ni cómo, lo cierto es que ahí estás.

Todos, ateos y escépticos,
Pero de este lado,
Desteñidos por los latigazos del sol,
Pero de corazones coloridos,
Todos, en algún instante nos vemos en esta lucha de siglos.

Apaga tu dolor, porque no estamos solitarios en esto,
Ya somos muchos, ya se cuentan por millones,
Sométete al silencio y, escucha...
Contempla la luna, sólo, en la noche oscura,
Observa tranquilo aquella mirada y, perfórala.
Déjate llevar por el viento, como si fueras una hoja,
Busca el sueño en la noche. Así. Profundo,
Y ya verás, seguro que mañana me encontrarás.

( Luis Arias Manzo, poeta Chileno )

A CAIXINHA DOS SONHOS...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

SONHO

O CAÇADOR DE BORBOLETAS

Vladimir recebeu muitas prendas no Natal, entre livros, discos, legos, jogos de computador, mas gostou sobretudo do equipamento para caçar borboletas. O equipamento incluía uma rede, um frasco de vidro, algodão, éter, uma caixa de madeira com o fundo de cortiça, e alfinetes coloridos. O pai explicou-lhe que a caixa servia para guardar as borboletas. Matam-se as borboletas com o éter, espetam-se na cortiça, de asas estacadas, e dessa forma, mesmo mortas, elas duram muito tempo. É assim que fazem os coleccionadores.

Aquilo deixou-o entusiasmado. Ele gostava de insectos mas não sabia que era possível coleccioná-los, como quem colecciona selos, conchas ou postais, talvez até trocar exemplares repetidos com os amigos.

Nessa mesma tarde saiu para caçar borboletas. Foi para o matagal junto ao rio, atrás de casa, um lugar onde se juntavam insectos de todo o tipo. Já tinha apanhado cinco borboletas, que guardara dentro do frasco de vidro, quando ouviu alguém cantar com uma voz de algodão doce – uma voz tão doce e tão macia que ele julgou que sonhava. Espreitou e viu uma linda borboleta, linda como um arco-íris, mas ainda mais colorida e luminosa. Sentiu o que deve sentir em momentos assim todo o caçador: sentiu que o ar lhe faltava, sentiu que as mãos lhe tremiam, sentiu uma espécie de alegria muito grande. Lançou a rede e viu a borboleta soltar-se num voo curto e depois debater-se, já presa, nas malhas de nylon. Passou-a para o frasco e ficou um longo momento a olhar para ela.

— Agora és minha — disse-lhe. — Toda a tua beleza me pertence.

A borboleta agitou as asas muito levemente e ele ouviu a mesma voz que há instantes o encantara:

— Isso não é possível — era a borboleta que falava. — Sabes como surgiram as borboletas? Foi há muito, muito tempo, na Índia. Vivia ali um homem sábio e bom, chamado Buda…

Vladimir esfregou os olhos:

— Meu Deus! Estou a sonhar?

A borboleta riu-se:

— Isso não tem importância. Ouve a minha história. Buda, o tal homem sábio e bom, achou que faltava alegria ao ar. Então colheu uma mão cheia de flores e lançou-as ao vento e disse: “Voem!” E foi assim que surgiram as primeiras borboletas. A beleza das borboletas é para ser vista no ar, entendes? É uma beleza para ser voada.

— Não! — disse Vladimir abanando a cabeça. — Eu sou um caçador de borboletas. As borboletas nascem, voam e morrem e, se não forem coleccionadores como eu, desaparecem para sempre.

A borboleta riu-se de novo (um riso calmo, como um regato correndo, não era um riso de troça):

— Estás enganado. Há certas coisas que não se podem guardar. Por exemplo, não podes guardar a luz do luar, ou a brisa perfumada de um pomar de macieiras. Não podes guardar as estrelas dentro de uma caixa. No entanto, podes coleccionar estrelas. Escolhe uma quando a noite chegar. Será tua. Mas deixa-a guardada na noite. É ali o lugar dela.

Vladimir começava a achar que ela tinha razão.

— Se eu te libertar agora — perguntou — tu serás minha?

A borboleta fechou e abriu as asas, iluminando o frasco com uma luz de todas as cores.

— Já sou tua — disse — e tu já és meu. Sabes? Eu colecciono caçadores de borboletas.

Vladimir regressou a casa alegre como um pássaro. O pai quis saber se ele tinha feito uma boa caçada. O menino mostrou-lhe com orgulho o frasco vazio:

— Muito boa — disse. — Estás a ver? Deixei fugir a borboleta mais bela do mundo.



José Eduardo Agualusa

Lost in translation

sábado, 15 de novembro de 2008

E SE OBAMA FOSSE AFRICANO?

Por Mia Couto

Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.
Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.
Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.
Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: "E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.
E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?
1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.
2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.
3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.
4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).
5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.
6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.
Inconclusivas conclusões
Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.
Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.
A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.
Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.
No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.
Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O Pássaro da Alma

para o meu filho querido, o Guilherme o Lucas, a Raquel a Margarida o João Miguel a Rita a Carlota o Francisco o Manel a Mariana o Rafael e o João a Sara o Tomás o Francisco a Mariana o Ricardo o Alexandre o Gaspar o Francisco a Mimi o Martim a Leonor o Rodrigo a Mafalda a Malena o Santos e tantos outros meninos e jovens que me preenchem a alma e o coração a Matilde a Pipa a Cácá a Margarida e o Francisco o Leo o Roberto a Inês o Luisinho o Francisco e todos os outros Franciscos Pedros Catarinas Ritas Madalenas Vascos ... com quem vou trabalhando e convivendo todos os dias.



No fundo, bem lá no fundo do corpo, mora a alma.

Ainda não houve quem a visse,

Mas todos sabem que ela existe.

E não só sabem que existe,

Como também sabem o que lá tem dentro



Dentro da alma,

Lá bem no centro,

Pousado numa pata

Está um pássaro.

E o nome do pássaro é pássaro da alma.

E ele sente tudo o que nós sentimos:



Quando alguém nos magoa, o pássaro da alma agita-se para lá e para cá

Em todos os sentidos dentro do nosso corpo, sofre muito.



Quando alguém nos ama,

O pássaro da alma dá pulinhos

De contente,

para trás e para a frente,

Vai e vem.



Quando alguém nos chama,

O pássaro da alma põe-se logo à escuta da voz,

Afim de reconhecer que tipo de apelo é.



Quando alguém se zanga connosco,

O pássaro da alma recolhe-se dentro de si

Tristonho e silêncioso.



E quando alguém nos abraça, o pássaro da alma

Que mora no fundo, bem lá no fundo do nosso corpo,

Começa a crescer a crescer,

até encher quase todo o espaço dentro de nós,

tão bom é ele o abraço.



Dentro do corpo, no fundo, bem lá no fundo, mora a alma.

Ainda não houve quem a visse,

mas todos sabem que ela existe.

E ainda nunca,

Nunca veio ao mundo alguém

Que não tivesse alma.

porque a alma entra dentro de nós no momento em que nascemos,

E não nos larga

-Nem uma só vez-

Até ao fim da nossa vida.

Como o ar que o homem respira

desde a hora em que nasce

Até à hora em que morre.



Decerto querem também saber de que é feito o pássaro da alma.

Ah, é mesmo muito fácil:

É feito de gavetas e mais gavetas.

Mas não podemos abrir as gavetas de qualquer maneira,

Pois cada uma delas tem uma chave para ela só!

E o pássaro da alma

É o único capaz de abrir as gavetas dele.

Como?

Pois isso também é muito simples:

Com a segunda pata.

O pássaro da alma está pousado numa pata,

E com a outra-que em descanso está dobrada sob a barriga-

Roda a chave da gaveta que quer abrir,

Puxa pelo puxador, e tudo o que está lá dentro dela

Sai em liberdade para dentro do corpo.



E como tudo o que sentimos tem uma gaveta,

o pássaro da alma tem imensas gavetas.

A gaveta da alegria ea gaveta da tristeza.

A gaveta da inveja ea gaveta da esperança.

A gaveta da desilusão e a gaveta do desespero.

A gaveta da paciência e a gaveta do desassossego.

E mais a gaveta do ódio, a gaveta da cólera e a gaveta do mimo.

A gaveta da preguiça e a gaveta do vazio.

E a gaveta dos segredos mais escondidos,

Uma gaveta que quase nunca abrimos.

e há mais gavetas.

Vocês podem juntar todas as que quiserem.



Às vezes uma pessoa pode escolher e indicar ao pássaro

As chaves a rodar e as gavetas a abrir.

E outras vezes é o pássaro quem decide.

Por exemplo: a pessoa quer estar calada e diz ao pássaro para abrir

A gaveta do silêncio. Mas ele, por auto-recriação,

Abre-lhe a gaveta da fala,

E ela desata a falar, a falar sem querer.



Outro exemplo: a pessoa quer escutar pacientemente

-E em vez disso ele abre-lhe a gaveta do desassossego

Que faz com que ela se enerve.

E acontece que a pessoa tenha ciúmes sem qualquer motivo.

E que estrague justamente quando mais quer ajudar.

porque o pássaro da alma nem sempre é disciplinado

E às vezes dá-lhe trabalhos...

Agora já compreendemos que cada homem é diferente do seu semelhante

por causa do pássaro da alma que tem dentro de si.

O pássaro que em certas manhãs abre a gaveta da alegria,

E a alegria jorra para dentro do corpo

e o dono dele fica feliz.

E quando o pássaro lhe abre

A gaveta da raiva,

A raiva escorre de dentro dela e

Domina-o totalmente.

e até que o pássaro

Volte a fechar a gaveta

ele não pára

De se zangar

E quando o pássaro está de mau humor abre gavetas que dão mal-estar.

E quando o pássaro está de bom humor escolhe gavetas que fazem bem.

E o mais importante-é escutar logo o pássaro.

Pois acontece o pássaro da alma chamar por nós, e nós não o ouvirmos.

É pena. Ele quer falar-nos de nós próprios.

Quer falar-nos dos sentimentos que estão encerrados nas gavetas

Dentro de nós.

Há quem o ouça muitas vezes,

Há quem o ouça raras vezes,

E há quem o ouça

Uma única vez na vida.

Por isso vale a pena

Talvez tarde pela noite, quando o silêncio nos rodeia,

Escutar o pássaro da alma que mora dentro de nós,

No fundo, lá bem no fundo do corpo.


sábado, 8 de novembro de 2008

http://www.youtube.com/watch?v=aOxuoVJZxFY

A NOVA HORA DO CONTO DE SANTIAGO





O Nelson, um novo amigo artista






  O nosso mestre Charlles Aznal






Inaugurou hoje e está assim lindo o "Castelo Medieval"


Dias deliciosos apesar de cansativos...

Com pessoas que sabem bem...

Criativas, que acrescentam, que dão...

Que por pouco dão tanto!



Foi tão bom conhecer e trabalhar com todos!



Um beijo enorme...